quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

China: ‘caixas’ são instaladas nas ruas para receber bebês abandonados

(Imagem ilustrativa) Várias cidades do país instalaram caixas com incubadoras para evitar que as crianças morram nas ruas
(Imagem ilustrativa) Várias cidades do país instalaram caixas com incubadoras para evitar que as crianças morram nas ruas

À primeira vista, parecem caixas com jornais, bebidas e cartões de recarga de celular, como tantas outras encontradas pelas ruas chinesas. Mas um olhar mais atento revela a diferença: há duas incubadoras que se abrem por uma janela, mantendo uma temperatura de 32,5 graus. Elas são acompanhados por um botão – quando pressionado, ativa um alarme que soa apenas dez minutos depois, tempo suficiente para aquele que abandona a criança não ser visto pelo pessoal dos serviços sociais que os recolhem.

As caixas são conhecidas em mandarim como “ilhas de segurança para os bebês”. São uma moderna réplica chinesa das “janelas de bebês”, introduzidas na Idade Média europeia mas retiradas de circulação no final do século XIX porque atentavam, acreditava-se, contra a moralidade e a segurança das crianças.

Hoje, embora sejam alvo de muitas críticas (incluindo da Organização das Nações Unidas), elas foram reintroduzidas em países como a Alemanha e a República Tcheca. Na China, são consideradas por alguns como uma salvação para as crianças que poderiam ficar totalmente desprotegidas.

Em 2012, 570 mil crianças foram abandonadas na China, um aumento de 11 % em relação ao ano anterior, de acordo com o Ministério dos Assuntos Civis. Destas, 100 mil foram para as mãos do Estado, enquanto as outras 470 mil não contaram com esse sistema, e, por isso, não se sabe o paradeiro. Acredita-se que dezenas de milhares de crianças morreram antes que pudessem ser assistidas.

Muitas crianças são deixadas nas ruas ou debaixo de pontes, entre as latas de lixo. Em maio passado, a história de uma mãe solteira, na província de Zhejiang, que deixou o seu bebê recém nascido em um vaso sanitário chocou a China. Os vizinhos ouviram os gritos do bebê por um cano furado e, finalmente, ele foi salvo por bombeiros.

Defensores e críticos

Muitos bebês são abandonados à noite, quando sofrem ao frio e podem ser atacados por animais – explica Han Jinhong, diretora do Centro de Bem-Estar Social de Shijiazhuang, na província de Hebei.

Foi lá que se instalou a primeira “caixa de bebê” da China e de Hong Kong.

A “caixa bebê” de Shijiazhuang, a 293 quilômetros de Pequim, foi inaugurada em junho de 2011. Desde então, o sistema recebeu 183 bebês, dois terços de todas as crianças abandonadas na cidade. Após sua instalação, cerca de 11 outros abrigos, com suas janelas para bebês, foram espalhados na província de Hebei.

Mas foi só este ano que as incubadoras caíram na boca de todos e receberam grande crítica pública, uma vez que começaram a ser inauguradas em outras cidades chinesas, como Xi’an , Xiamen e Nanjing. A questão se intensificou especialmente depois que a cidade de Shenzhen, província de Guangdong, anunciou seu plano de abrir um abrigo este ano.

Os críticos do sistema acreditam que essas janelas incentivam os pais a abandonar seus filhos e promove um “comportamento imoral” na sociedade.

Em uma pesquisa realizada pelo portal Sohu com 9.403 entrevistados, 16% estavam preocupados porque o programa não pune pais irresponsáveis. Mas a pesquisa mostrou uma percepção positiva, com 75% de apoio ao programa _ 63% não acreditam que o projeto incentive os pais a deixar as crianças.

A questão das “caixinhas” em Shenzhen ganhou ainda mais notoriedade porque Guangdong é considerado um dos principais destinos dos trabalhadores migrantes na China. Pelo menos metade das trabalhadoras migrantes tiveram relações sexuais antes do casamento, e 60% delas tiveram ao menos uma gravidez indesejada, de acordo com um estudo realizado pelo Departamento de Planejamento Familiar na província.

Na Europa, Alemanha, Áustria, Polônia, Hungria e República Theca tem o uso das tais “incubadoras” regulamentado. Dentro das “caixas”, além de cobertores, há uma carta com informações caso a pessoa mude de ideia. Na Ásia, Paquistão, Índia, Malásia e Japão somam os países que procuram proteger desta forma as crianças abandonadas.

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Fonte: O Globo

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